Você sabe ler as dinâmicas do seu time? Saiba como lidar e facilitar a dinâmica em time de forma poderosa!

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Você sabe reconhecer os papéis que você assume — ou evita — nos grupos que participa?

 

Este texto pode parecer técnico, mas é, na verdade, um convite direto à sua prática como líder ou facilitador de grupos e times.

Se você conduz equipes, coordena projetos ou participa ativamente de espaços coletivos, o que compartilho aqui pode expandir seu olhar — e transformar sua escuta.

Porque não basta ter cargo ou propósito. Liderar, de verdade, é saber reconhecer o que acontece entre as pessoas — e dentro de si — quando um grupo se forma.

Sempre valorizei o conhecimento profundo, técnico e humano sobre as dinâmicas das equipes. Nunca me contentei apenas em facilitar reuniões ou conduzir conversas — eu queria entender o que realmente se move nas relações humanas quando um grupo se forma.

Por isso, estudei. Mergulhei nos livros da Fela Moscovici, na psicologia social de Enrique Pichon-Rivière, na teoria de campo de Kurt Lewin, na linguagem simbólica de Moreno. Queria mais do que ferramentas: queria consciência.

Mesmo já conhecendo boa parte do conteúdo, gostei muito de participar do processo formativo da Sociedade Brasileira de Dinâmica dos Grupos, que trouxe para São José dos Campos, no espaço da Plena Mente. Porque sei que o verdadeiro conhecimento nasce da vivência.

Convidei consultores da minha equipe, parceiros de RH, líderes de outras empresas. E com 15 “sins”, formamos o grupo. Porque acredito que o desenvolvimento de um grupo começa com o desejo sincero de aprender junto.

E acredito que, para qualquer líder, dois pontos são essenciais: saber ler os papéis que emergem em um grupo e reconhecer que eles tornam cada dinâmica única.

O campo grupal: o invisível que sustenta tudo!

Sempre que um grupo se reúne, forma-se um campo. Esse campo não é visível nem objetivo, mas é profundamente real. Ele existe nos silêncios, nas trocas, nos olhares, nos gestos, nas alianças implícitas.

Kurt Lewin, pai da psicologia social moderna, dizia que o campo é a totalidade das forças que atuam sobre um comportamento num determinado momento. Pichon-Rivière amplia essa noção: no grupo, o campo é simbólico, dinâmico, emocional. E tudo que se passa ali carrega sentido.

Já reparou como isso está presente no seu time e dia a dia no trabalho? Como líder, ler o campo é escutar o que não está sendo dito. É perceber o que o grupo está tentando realizar — e o que está evitando. É reconhecer padrões, tensões, desejos, ausências.

Os sintomas de um grupo contam uma história — e cabe ao líder escutá-la.

Os papéis invisíveis que cada pessoa assume

Recentemente, vi um post do Laôr Fernandes , um líder que admiro e que participou de um processo de desenvolvimento comigo. Ele mencionou os papéis descritos por Pichon-Rivière, e isso me deu o impulso para escrever essa newsletter.

Pichon observou que, ao longo da vida de um grupo, papéis arquetípicos emergem — não como cargos formais, mas como expressões simbólicas do que o grupo precisa para funcionar, resistir e mudar.

Alguns desses papéis:

•Líder: organiza o grupo e mobiliza o campo. É quem sustenta o propósito e ajuda a dar forma ao que ainda está disperso.

•Porta-voz: verbaliza o que o grupo sente, mesmo que inconscientemente. Abre conversas necessárias, dá nome ao que pulsa.

•Bode expiatório: carrega as tensões do grupo. Muitas vezes é criticado ou rejeitado por questões que pertencem ao todo.

•Sabotador: resiste às mudanças. Pode parecer obstáculo, mas frequentemente aponta as fragilidades do processo.

•Observador: adota uma postura periférica e analítica. Ajuda o grupo a tomar consciência de padrões e repetições.

•Coordenador: atua sobre as barreiras cognitivas. Conecta ideias, organiza falas, constrói sentido coletivo.

Esses papéis não são exclusivos nem fixos a uma pessoa. Mas, com o tempo, é comum que alguém comece a atuar sempre da mesma maneira — e perca sua espontaneidade. Identifica-se com o papel e limita suas possibilidades.

Estratégias para provocar circulação simbólica

Nas mentorias e vivências, costumo propor que cada pessoa experimente novos papéis dentro dos grupos em que participa. E também algo simples e poderoso que o líder pode fazer: trocar de lugar nas reuniões. Literalmente, mudar de cadeira. Isso obriga o grupo inteiro a se mover em novas posições.

O espaço que ocupamos fisicamente diz muito sobre o lugar simbólico que agimos naquele campo. E, se nos mantemos sempre sentando nos mesmos lugares, acabamos, de alguma forma, fixando também um posicionamento interno dentro do grupo.

Nos encontros online ou presenciais, outras formas para provocar essa movimentação:

• Convidar diferentes pessoas para conduzir pautas.

• Deixar de ser sempre o primeiro a falar.

• Estimular escuta ativa antes da resposta.

• Dar voz a quem costuma se calar.

• Observar quem sempre ocupa o mesmo papel — e propor inversões conscientes.

E um alerta necessário: quando todos mantêm a câmera fechada, o campo se empobrece.

Perde-se o gesto, o afeto, a linguagem não verbal — que é justamente onde se revelam os papéis e o campo simbólico.

Você circula — ou se repete?

A liderança exige presença. Mas uma presença que saiba escutar o invisível.

Certamente, dentro da equipe que você lidera, seu papel mais recorrente é o de liderança formal, e ainda assim pode criar circulação desse papel em momentos oporrunos. Mas você também participa de outros espaços:

• Quando está entre seus pares, que papel você costuma ocupar?

• Em novos projetos, quem é você? O que assume sem perceber?

• Diante de uma nova equipe, você mantém o papel de liderança ou transita entre outras funções?

• E, talvez mais importante: quais papéis você evita?

Eu te convido a refletir. Porque a liderança que se reconhece em diferentes lugares — e permite a outros fazerem o mesmo — nutre a vitalidade do grupo e fortalece sua potência coletiva.

Não há liderança sem consciência grupal.

Quando os papéis circulam, o grupo respira.

E é nessa respiração que surgem a criatividade, a confiança e o aprendizado vivo.

Com presença e propósito,

Ana Lícia Reis

Mentora de líderes e fundadora da Plena Mente DHO

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