

Alguma vez, ao acompanhar as atividades da sua equipe, você já sentiu que passou a impressão de ser um líder controlador? Será que tem conseguido demonstrar interesse genuíno pelas pessoas e atenção aos resultados sem parecer que está vigiando ou pressionando? E você, líder, já se sentiu “vigiado” pelo seu gestor ou acredita que isso faz parte da cultura organizacional?

Recentemente, li um artigo na revista EXAME que me chamou atenção. Segundo uma análise da ExpressVPN, 73% dos empregadores utilizam e-mails, gravações de chamadas ou outros sistemas de monitoramento para avaliar o desempenho de seus funcionários de forma ativa. Além disso, a demanda por softwares de vigilância no ambiente de trabalho cresceu 54% entre março de 2020 e junho de 2023.
Esses dados evidenciam a crescente preocupação das empresas com prazos, qualidade das entregas e o equilíbrio entre carga de trabalho e desempenho real dos times. No trabalho remoto, esse desafio se intensificou: muitas organizações, sem uma cultura de confiança consolidada, recorreram a ferramentas de monitoramento para tentar garantir produtividade. Mas até que ponto essa vigilância ajuda ou prejudica os resultados?

Vivemos em uma era em que a tecnologia permite um monitoramento detalhado do comportamento dos colaboradores. E como isso impacta a produtividade e o engajamento?
Controle x Confiança: Onde Está o Equilíbrio?
O problema central está na desconexão entre propósito e resultados. Quando um profissional percebe que sua performance é avaliada apenas por números, sem um acompanhamento genuíno sobre o impacto do seu trabalho, a confiança na organização tende a diminuir.
A resposta positiva frente a essas quatro perguntas-chave nos faz sentir engajados:
1️⃣ Qual a visão ou para onde estamos indo?
2️⃣ O que será feito para chegarmos lá?
3️⃣ Qual minha participação e importância nessa jornada?
4️⃣ Qual o impacto dessa conquista no negócio e para nós?
Por isso, líderes, será que seu time – e você mesmo – consegue responder a essas perguntas com clareza e de forma positiva?
Um estudo publicado no The Times mostra que o monitoramento excessivo pode gerar estresse e queda na produtividade, pois os funcionários se sentem constantemente sob pressão, o que prejudica a criatividade e a inovação.
Mas, observo que a falta de parâmetros e acompanhamento também é prejudicial.
A liderança baseada na vigilância muitas vezes leva ao que estão chamando de “gestor espião”, aquele que foca excessivamente no controle em vez de inspirar e orientar. Essa postura pode resultar em um ambiente de medo, infantilização dos profissionais e desmotivação.

Transparência Radical: Caminho Para a Confiança ou Outra Forma de Vigilância?
Tive a oportunidade de participar de uma aula no IESE Business School, onde foi abordado o tema transparência radical. O case discutido foi a experiência de Ray Dalio na Bridgewater Associates, onde a cultura organizacional incentiva que qualquer colaborador possa questionar e dar feedback a qualquer pessoa na empresa, inclusive ao CEO.
Além disso, as reuniões são gravadas e a performance avaliada com uso de softwares baseados em dados concretos. A ideia central é eliminar subjetividades e garantir que as avaliações sejam feitas com base em evidências reais.
Esse nível de transparência pode gerar benefícios, como maior clareza nas decisões e redução de jogos políticos dentro da empresa. No entanto, também pode criar desafios: será que a exposição constante de opiniões e decisões pode inibir a espontaneidade e a criatividade, ou mesmo uma competitividade velada?
De acordo com a pesquisa “O que Torna a Liderança Eficaz em Equipes Ágeis de Desenvolvimento de Software?”, de Lucas Gren e Paul Ralph, publicada no arXiv, times de alta performance operam melhor quando têm clareza de objetivos, mas também possuem autonomia para definir os meios de alcançá-los.
E trabalhando com o desenvolvimento desses times em várias empresas, percebo que o verdadeiro impacto da liderança está na capacidade de criar um ambiente onde os colaboradores se sintam parte da estratégia da empresa e possam exercer uma liderança compartilhada, onde ele tenha voz e também conhecimento da linha d’água, até onde vai sua liberdade.
Acordos Claros e Feedback Contínuo: O Caminho Para o Engajamento

Na minha visão, a chave para equilibrar controle e autonomia dentro dos times não está na vigilância ou na transparência extrema, mas sim na clareza dos acordos e combinados.
Ter um acompanhamento estruturado, com reuniões periódicas, métricas bem alinhadas e espaços de diálogo, permite que os times sintam segurança em relação às suas entregas e desenvolvimento. Quando um time sabe o que é esperado e como será avaliado, o engajamento acontece sem a necessidade de controle excessivo.
O verdadeiro papel da liderança não é vigiar, mas inspirar, alinhar expectativas e criar um ambiente de corresponsabilidade. Para isso, é fundamental que o time tenha acordos claros, garantindo que:
✔ O que será monitorado e por quê. A transparência sobre os critérios de avaliação gera segurança e evita desgaste desnecessário.
✔ Como o desempenho será avaliado. Ter métricas bem definidas permite que os colaboradores saibam como podem se aprimorar.
✔ Quais serão os momentos de acompanhamento e feedback. Check-ins estruturados evitam microgestão e permitem ajustes sem gerar pressão constante.
✔ Quais são os espaços para diálogo e melhoria contínua. Oportunidades de aprendizado e troca fortalecem o compromisso com os resultados.
✔ As quatro perguntas engajadoras são respondidas. Quando a equipe entende visão, caminho, papel e impacto, o engajamento cresce naturalmente.
Por exemplo, um gestor pode definir reuniões quinzenais de alinhamento, onde a equipe revisa suas entregas e desafios juntos, ao invés de depender apenas de métricas de produtividade. Dessa forma, cria-se um ambiente onde o acompanhamento não é visto como vigilância, mas como um suporte para o crescimento e desenvolvimento da equipe.
Gestores que equilibram controle e autonomia, com direcionadores claros e check-ins estratégicos, constroem times mais motivados e produtivos.
RHs e Líderes: Como Construir Confiança sem Perder Performance?

Líderes e RHs desempenham um papel fundamental na criação de uma cultura organizacional baseada na confiança. Algumas ações que podem fortalecer esse equilíbrio incluem:
➡ Criar rituais de alinhamento e feedback contínuo.
➡ Garantir que métricas sejam claras e alinhadas ao propósito do time.
➡ Investir no desenvolvimento da autonomia dos colaboradores.
➡ Construir um ambiente onde erros se tornem aprendizados.
➡ Manter um canal aberto para escuta e diálogo sobre as formas de acompanhamento e desenvolvimento dos times.
O futuro do trabalho não está na vigilância, mas na capacidade dos líderes em cultivar uma cultura de confiança, propósito e desenvolvimento contínuo, onde cada colaborador se sinta parte da estratégia organizacional.
📩 E você, sente que faz uma boa gestão do desempenho do seu time? Sua empresa promove um ambiente de transparência e confiança?
➡ Como você tem equilibrado controle e autonomia na sua liderança? Compartilhe sua experiência nos comentários!
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