

Só leia até o fim e depois me diga o que te tocou.
Antes, preciso dizer de onde surgiu esse texto, certamente não de uma I.A. Ele nasceu de conversas com mulheres que, sem perceber, minimizam experiências que são puro exercício de liderança.
“Me afastei do trabalho para ser mãe”, como se gestar, maternar e sustentar uma família não fossem aprendizados comparáveis a um MBA prático.
“Faço bem o meu trabalho, mas nunca fiz formação em gestão”, como se organizar eventos, equilibrar orçamentos e manter uma rotina familiar sustentável não fosse logística de alta performance.
Essas frases mostram o quanto ainda não reconhecemos a vida como um laboratório legítimo de liderança. E por isso, convido você a acompanhar um dia na vida de Maria Ana.
Ela acorda cedo e, antes de abrir os olhos, já toma decisões. A primeira é o que vai adiar para que tudo o mais funcione. Um filho com fome, outro ansioso pela prova. A casa precisa girar e ela gira junto, calibrando o eixo e ajustando engrenagens invisíveis.
Antes das oito da manhã já coordenou horários, delegou tarefas e antecipou riscos. Não chama isso de gestão, mas é. É estratégia em tempo real. É liderança sem crachá.
Enquanto organiza a família, mentalmente mapeia a semana de trabalho. Tem reunião com diretoria, entrega que precisa encantar e o cuidado com o tom de voz, firme mas não agressivo. Aprendeu que resultado não basta, é preciso se alinhar ao contexto sem perder integridade.
Ela estuda nas frestas. Audiobook no trânsito, podcast no treino, TCC planejado enquanto lava o rosto. Nunca parou de aprender. Não por insegurança, mas porque sabe que inteligência viva é aquela que responde a múltiplos sistemas.
Gerencia também seu corpo. Monitora ciclos, dores, exames preventivos. Lê sinais internos como lê os sinais da casa e da equipe. Quando esquece um check-up, sente culpa e medo. Liderar é também cuidar de si, muitas vezes sozinha.
Com amigas, fala de cansaço, sonhos e planos. Com pais, parceiros e colegas, sustenta pontes, traduz silêncios e media conflitos que ninguém formalmente pediu para resolver. Mas todos se beneficiam.
Na empresa, entrega resultados com consistência e visão. Sente, porém, que não pode errar, hesitar ou endurecer. Caminha por terrenos instáveis e sustenta mais do que é visível.
O nome disso? Liderança. Inteligência relacional. Leitura sistêmica com visão de futuro. Gestão sensível e estratégica. Por séculos, não chamaram de nada. Chamaram de “papel da mulher”.
Houve um tempo em que liderança era associada a homens e sempre havia uma assistente competente, com escuta fina, organização impecável e empatia natural, sem reconhecimento formal de que ela também liderava. Hoje, homens e mulheres transitam entre competências tradicionalmente atribuídas ao feminino e ao masculino. E repare como muitas das habilidades essenciais para liderar são intrinsecamente femininas.
O que nunca disseram a Maria Ana, e que nem ela percebeu: o lugar natural da mulher é, sim, liderando. Não no comando distante, mas no serviço que transforma, sustenta e conecta. Não por cota, mas por competência lapidada na vida real.
Se você leu este texto como um retrato de sobrecarga, releia. Não é lamento, não é denúncia. É diagnóstico de uma liderança silenciosa, mas estratégica, que o mundo corporativo precisa reconhecer.
Maria Ana não está pedindo validação. Ela está se validando para que organizações finalmente enxerguem um talento desenvolvido, testado e comprovado. Porque a liderança não é feita só de atributos masculinos. Ela também nasce e se sustenta nas habilidades sistêmicas do feminino. Está na hora de reconhecer e de promover.








